quinta-feira, 12 de maio de 2011

dissecar o passado



Ouvimos tantas vezes o nome Sócrates nos últimos anos que parecia que todos os outros políticos estavam quase eclipsados da esfera da comunicação social e dos debates. Seria hibernação à espera das eleições? É a comunicação social que tem uma obsessão pelo Primeiro-Ministro ou foi o próprio que cultivou uma obsessão por ele mesmo?

Hoje em dia, em vésperas de eleições todos falam, todos opinam e parece que muitos saírem da penumbra para palrar. Um facto continua imutável: todos vivem obcecados com o Sócrates (incluindo o próprio que não larga o PEC IV !)

E que tal ir um pouco mais longe?

Como a “malta” de esquerda adora falar do 25 de Abril de 1974 por isso vamos começar por aí.

Tal como um pássaro preso numa gaiola durante 40 anos que já não sabe voar, assim, Portugal saiu da ditadura aos trambolhões, em voos atabalhoados com rumo incerto. Felizmente quem não sabia por onde ia, mas sabia que não ia por ali, conseguiu tomar o pulso ao país e, apoiados externamente, lá conseguiram evitar um caminho desastroso.

Vieram tempos de instabilidade, de luta política acesa, nacionalizou-se tudo o que se podia deitar a mão, começou-se a exigir e dar direitos a torto e direito, fomentou-se e galvanizou-se o estado como agente principal da economia. O FMI visitou as terras Lusas e veio a Comunidade Económica Europeia, qual D. Sebastião vindo numa manhã de nevoeiro.

Depois veio o homem que foi fazer a rodagem ao carro à Figueira da Foz para arrebatar um partido e seguidamente um país. Vieram os fundos e aquilo é que foi “betazinar” Portugal. Nunca antes se tinha visto tanto betão quase a borla. É maravilhoso construir com o dinheiro dos outros, inaugurar com pompa e circunstância e arrebatar as massas que procuram insistentemente há anos os seus gambozinos. Que graciosos que eles eram. Uma década maravilhosa para os pássaros cor-de-laranja voarem rumo aos cargos que nasciam ao ritmo da voracidade dos tempos.

Não se falou noutra coisa se não em betão, tapava-se o sol com a peneira acerca de outros assuntos. Não se desenvolveu o capital humano, pouco se organizou e pouco se estruturou. Limitaram-se a meter o betão mas esqueceram-se que não se faz betão armado só com argamassa, convém primeiro meter lá as vigas.

Mais tarde os pobres caçadores de gambozinos começaram a perceber que era tudo laranja, estava tudo monocromático, tudo muito absolutista. Eles ainda molharam uns polícias, carregaram nos sindicatos e não só, mas já era demasiada "manif". Foi tudo buzinar para a ponte e o laranjal começou a secar. Vai um bolinho Rei?

Veio um mar de rosas e os caçadores de gambozinos estavam felizes. As rosas floriram a um ritmo nunca antes visto. Finalmente tiveram água após 10 anos de seca e parecia uma delícia ver um país tão “pink”.

Prometeu-se ainda mais betão, falou-se e atribuiu-se subsídios porque as pessoas têm direitos e, portanto, foi tudo subsidiado a torto e a direito. Voltou-se a construir com o dinheiro dos outros e a inaugurar com pompa e circunstância. Uma era de prosperidade para as massas de caçadores de gambozinos, até parecia que os conseguimos ver a saltitar no meio de tanta obra, inauguração e atribuição de subsídio. Eu juro-vos que vi um no meio do Aquamatrix da Expo 98.

Os graciosos também não ficaram mal de todo. Rodou-se as cadeiras, meteu-se as laranjas na prateleira (a receber quantidades razoáveis de água a mesma) e as rosas floriram com uma vivacidade nunca antes vista e couberam todas em todo o lado. Quando não cabiam criava-se mais espaço para as acomodar.

Começou-se a falar em andar de tanga e as rosas acabaram por perder vitalidade e as laranjas voltaram mas sem a força de outros tempos. O homem que disse que estávamos de tanga, apercebeu-se que já estávamos de fio dental e que a sede e a fome de todos eram insaciável e, como tantos milhões de Portugueses, decidiu emigrar em busca de melhores condições de vida e menos chatices.

Veio uma época engraçada, um autêntico circo, foi um rodopio de cadeiras, de reuniões, de golpes de teatro, de eleições, de faltas de serenidade, de presentes envenenados mas a verdade é que conseguiram a proeza de não parar de subsidiar e de meter betão em todo o lado.

Chegou o homem com o nome de filósofo grego, com uma imagem graciosa e lá perdemos o resto do fio dental que ainda tínhamos.

Felizmente os caçadores de gambozinos ainda podem olhar para tanta mudança e ver o nosso denominador colectivo comum: Continuamos a construir com o dinheiro do outros e a inaugurar com pompa e circunstância, continuamos a adorar o subsídio, as reformas adiadas, ainda discutimos as privatizações e continuamos a padecer de uma pasmaceira colectiva atroz.

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